Que horas são dentro de ti?

A natureza me faz lembrar que horas são dentro de mim.

O canto dos pássaros, o balançar das árvores, a beleza das flores. As diferentes cores do céu (às vezes num só dia), as folhas caindo, a brisa leve – que chega sempre em momentos oportunos como quem traz um recado: você é um corpo vivo, pulsante, em movimento; mas tem seu próprio tempo.

Faz alguns anos que um incômodo interno enorme me fez perceber que esse mundo acelerado não combina comigo; mas é recente o fato de ter aceitado isso. Sou do tipo que demora para processar as coisas – de piadas bobas aos sentimentos mais complexos que brotam aqui dentro. Não sou a mais sintonizada nos memes do momento, tampouco consigo dar conta de todas as demandas que a minha própria vida me exige. Vez ou outra coloco o mundo no mudo para aumentar o volume das vozes internas. A verdade é que me sinto completamente deslocada em meio a tanta pressa.

Gosto de olhar nos olhos; me demorar nas conversas; não ver o tempo passar; respirar fundo; me perceber viva.

Esse estranhamento com as demandas de um mundo tão veloz me fez entender que eu tenho um tempo muito próprio para digerir o que vejo, ouço e sinto; especialmente o que sinto. Por um longo período (mais do que eu gostaria), me senti atrasada. Mas neste mundo acelerado onde pareço estar sempre perdendo hora para alguma coisa, aprendi a buscar a natureza para relembrar que horas são dentro de mim. 

Entendi, afinal, que os ponteiros do meu relógio são os meus sentimentos. E sei que, se eu estiver caminhando no compasso da minha essência, jamais perdei um segundo sequer de quem sou.

Júlia Groppo

Por julia às 02.01.24 Comentários
O ano é novo, mas você é o mesmo

Apesar da minha dose extra de otimismo nessa época festiva, não posso deixar de te alertar que, apesar do ano novo estar mais perto do que nunca, você ainda é o mesmo de ontem; e da semana passada. Talvez não o mesmo de janeiro, afinal, a vida nos atravessa algumas vezes ao longo dos 365 dias que fazem um calendário. Tenho pra mim que só termina um ano do mesmíssimo jeito que o começou quem, ao invés de viver, está em modo sobrevivência.

Mas números a parte, o que preciso te alertar é que a virada do ano não garante mudança alguma na vida real. Longe de mim disparar doses de negatividade – acredite, tenho me agarrado a todo e qualquer resquício de positividade perante a vida adulta. Também sou forte adepta de qualquer meia desculpa para recomeçarmos – seja a vida como um todo, um hábito da rotina, uma relação. Mas a gente cresce e percebe que algumas verdades precisam ser escancaradas se quisermos viver com mais significado e intenção; e esse é o tipo de conselho que eu escrevo aqui para ficar registrado sobretudo em mim mesma.

Será que o seu eu que escolhe vestir a melhor roupa, estoura champanhe, faz rezas e promessas e grita a contagem regressiva aos sete ventos ficaria orgulhoso de quem você decide ser dia após dia de um ano? O ano é novo, mas você é o mesmo.

A boa notícia é que, o ano é novo, você é o mesmo, mas é possível fazer diferente. Sempre será. O desafio é começar. Que em 2024 o entusiasmo da noite de Ano Novo seja levado adiante.

Júlia Groppo

Por julia às 29.12.23 Comentários
Por que tudo dá certo nos filmes?

Outro dia, enquanto trocava com uma amiga sobre o quanto passamos a adolescência inteira idealizando como seria a vida quando adultas, começamos a falar sobre alguns dos nossos filmes preferidos e o quanto eles davam a falsa impressão de que tudo sempre acaba bem. Rapidamente nos demos conta de que as coisas terminam ótimas porque a verdade é que a vida de nenhum personagem acaba ali.

Há quantos anos você está escrevendo a sua história? Eu, há 27. Os filmes aos quais assistimos duram em média uma hora e meia e, muitas vezes, o enredo tenta fazer caber toda uma vida dos personagens ali dentro. 

Imagine todas as cenas de ‘’finais felizes’’ das suas tramas preferidas. Eu confesso que sou uma incorrigível apaixonada por comédias românticas 100% clichês, então, a maioria dos filmes que adoro assistir desde criança terminam com cenas de casamento, promoções no trabalho, aprovações nas melhores faculdades e várias outras coisas que fazem com que os personagens exalem uma energia de completa satisfação, felicidade e sucesso. E foi isso que eu passei a adolescência inteira construindo na minha cabeça.

Mas o que os filmes não costumam nos contar é o que vem depois. Nenhum deles é capaz de nos ensinar sobre o que acontece após tudo dar certo, pois as vidas daqueles personagens se encerram no espaço e tempo que os cabe na ficção. Já para nós, pessoas reais que estão aqui vivendo o antes, o durante e depois desses tais finais felizes, há todo um caminho para continuar sendo percorrido e do qual é impossível escapar das adversidades. 

Esse é um grande motivo pelo qual, ao longo da minha juventude, os meus filmes favoritos deixaram de ser qualquer espécie de modelo de uma vida feliz a ser seguida – algo muito latente quando você é uma adolescente sonhadora – e passaram a ser momentos de descompressão e acolhimento em meio à rotina atribulada.

É gostoso assistir personagens vivendo o sentido mais literal da palavra clichê quando, no mundo real dos adultos, as coisas não são tão fáceis assim.

Tudo dá certo nos filmes porque eles escapam de algo pelo qual não há como eu e você sairmos ilesos: a realidade.

Júlia Groppo

Por julia às 26.10.23 Comentários
Mente também é lar

Há algumas semanas, enquanto fazia um trajeto de duas horas de barco para chegar a uma ilha na Colômbia, apesar de acompanhada, me vi totalmente sozinha. Enquanto a maioria dormia profundamente, eu era uma das únicas ali que, sem saber o motivo, continuava acordada. Foi então que me dei conta de que eu seria a minha única companhia até chegarmos ao destino. 

Não havia mais nada ali que pudesse me entreter a não ser os meus pensamentos. Duas horas dentro de um barco em completo silêncio. Aonde quer que eu olhasse, havia apenas uma coisa que meus olhos podiam alcançar: um mar que não acabava mais. Uma imensidão que assusta e encanta, na mesma medida. E esse é um daqueles momentos da vida em que, se a gente estiver com a lente que olha pro mundo devidamente ajustada, entende que é benção. Sorte a minha. 

Foi bem ali que eu constatei algo que há um tempo desconfiava: mente também é lar; e que aprender a fazer morada confortável em si mesmo é um dos grandes presentes que a gente pode se dar. Passeei pela minha cabeça e, estando imersa ali, percebi que moram coisas boas de se esbarrar. Memórias & fantasias & (res)significados construídos e reconstruídos com muito afeto e paciência, que são e serão companhia para uma vida inteira. Que são a salvação quando, de repente, a gente se vê mergulhando sem querer em si mesmo, num lugar que pode ser tão bom ou tão perigoso quanto o mundo de fora: o mundo de dentro. 

Duas horas (e muitos pensamentos) depois, respirei aliviada. Não por ter chegado ao destino tão desejado, mas sim pela alegria em perceber que sei ser uma casa confortável pra tudo o que me faz ser eu.

O mundo nem sempre vai ser o lugar mais incrível de se estar. Mas contanto que eu seja esse lugar para mim nesses momentos, recalcular a rota sempre será possível; e estar sozinha dentro da minha mente não será ruim.

Júlia Groppo

Por julia às 19.06.23 Comentários
Esse é pra Rita

Hoje é um daqueles dias que eu (e muita gente) não gostaria que chegasse. Dias em que somos lembrados da nossa finitude; das nossas limitações como seres de carne e osso e de que almas boas e geniais também se vão. Todos os dias, pessoas morrem. Mas têm dias que morrem as nossas pessoas. E quando uma pessoa como Rita Lee vai embora deste plano, a gente confirma, mais uma vez, o poder da arte de transcender tempo e espaço e de atravessar quem somos de maneira quase inexplicáveis. E tudo isso é poderoso demais para eu deixar apenas guardado dentro de mim.

Eu precisava escrever sobre Rita. Precisava deixar registrado o emaranhado de sentimentos que ela me desperta ao pensar em toda a sua arte – começando por quem ela é, passando por tudo o que ela fez e não terminando jamais, justamente pela beleza e força de tudo o que Rita Lee construiu.

O mais bonito disso tudo é saber que foi obra de um manifesto de quem ela soube ser: tão ela mesma. Autêntica, corajosa, audaciosa, louca, profunda, disruptiva. Contrariando tudo o que esperavam de uma mulher, Rita chutou portas, chocou pessoas, desbancou padrões, descumpriu regras, marcou gerações e é figura importante na luta das mulheres por protagonismo e liberdade – tudo isso com bom humor e ironia que só ela.

Viver é mesmo uma coisa boa, estranha e difícil, tudo ao mesmo tempo; e quanto mais eu me dou conta disso, mais eu agradeço por poder dar as mãos para a arte e tê-la como recurso de sobrevivência. Um verdadeiro alívio para quem já provou do tédio e do pavor que é estar vivo em algum nível. O quão estranho e bonito é ter artistas como Rita Lee que nos salvam de nossas próprias sombras sem sequer imaginar? Eles dividem sua genialidade com o mundo e emprestam sua arte feito remédio que cura dos mais variados tipos de desafetos. Quando falamos de uma mulher que não cabia em qualquer das caixinhas que a tentaram colocar, falamos também de história e política.

A gente até desconfia do que acontece ”do lado de lá”, mas não tem certeza nenhuma. O meu palpite é que Rita não pode ler isso aqui e que, se pudesse, talvez até me achasse careta demais (porque eu sou bastante). Mas queria mesmo é que ela soubesse o quanto foi (e continuará sendo) fonte de inspiração, coragem e acolhimento. Que meus filhos saberão quem ela foi, porque aqueles que ousam criar um legado merecem que nós, meros mortais, tenhamos a gentileza de passa-lo adiante.

Que sorte ter vivido na mesma época que você. Que alegria entender o valor de tudo que você escreveu e cantou. Desejo ser um pouco Rita Lee sempre que possível. E enquanto eu estiver viva, Rita viverá através da minha existência, pois sua arte torna a minha trajetória bem mais legal.

Quando uma grande referência nossa morre, parte de nós se vai junto a ela, mas parte dela fica conosco. Se isso não é uma das coisas mais belas sobre a vida, eu não sei o que é.

”E eu lá sou mulher de fazer back-up? Perdi tudo, foda-se eu”.

Júlia Groppo

Por julia às 09.05.23 Comentários
Vinte e sete

Vinte e sete anos
Ou primaveras
Ou voltas ao sol
Ou vidas inteiras
Numa só

Ou tudo isso
E ainda pouco 
Perto do que falta
Mas muito 
Se comparado a como eu sinto os anos passando por mim 
Ou melhor
Me atravessando 

Vinte e sete anos. 
Gosto de quem eu sou – e este é o meu maior feito até aqui. Ninguém pode vê-lo, mas eu posso senti-lo e isso tem bastado em um nível quase inexplicável. Para uma ariana nata, algo bastar é raro. Mas quando acontece, é graça divina. 

Não quero me esquecer nunca dessa sensação boa que é se sentir feliz na própria pele. Porque mesmo quando me rasgo na intensidade que me habita, me remendo com minha própria fantasia por acreditar que a experiência de estar viva pode ser sempre mais. 

Guimarães Rosa fala que quem elegeu a busca não pode recusar a travessia. Eu não sou nem louca de duvidar, pelo contrário: sinto que elegi algum tipo de busca muito doida sobre a vida e sigo nessa travessia intensa que ela é. A diferença é que os últimos anos me trouxeram a maturidade de saber fazer desse percurso uma deliciosa aventura. 

Não estive em tantos lugares assim do mundo até aqui, mas já estive em tantos lugares de mim mesma que perdi as contas. Por vezes afundei nas minhas próprias profundezas – é perigoso pensar demais, mas esse segue sendo o meu esporte preferido. 

Quando retomei o fôlego, entendi: o mundo não dá pé pra quem gosta de viver de significados. 

Vinte e sete anos e sinto que nunca estive tão longe das idealizações e tão perto da minha essência. Alívio. Vinte e sete anos e me agarro nas minhas certezas sabendo que elas têm prazo de validade, mas com alegria de quem sabe também que, assim que eu as perder de vista, tenho um universo inteiro de chances de buscar por novas. E eu as encontro. Se não, as crio. 

Vinte e sete anos e parece que foi ontem. 

Vinte e sete anos e eu quero pintar e bordar por mais uns oitenta. O futuro que a gente tanto sonha só existe se a gente continuar caminhando. 

Vinte e sete anos e contando. Não os anos; os suspiros. 

Júlia Groppo

Por julia às 25.04.23 Comentários
A idade do sucesso é aquela que você finalmente descobre a receita do seu

Toda adolescente dos anos 2000 que assistiu à comédia romântica ”De repente 30” – estrelada pela maravilhosa Jennifer Garner – já se sentiu frustrada ao menos uma vez ao ver a sua vida chegando cada vez mais perto dessa idade e se dar conta de que (quase) nada é como parece que seria. Pudera: os 30 anos, muito por conta desse filme, foram coroados com a promessa perigosa de que essa fase da vida chegaria com tudo a nosso respeito muito bem resolvido: carreira em ascensão, vida pessoal nos trilhos, conta bancária de dar inveja e boa parte dos nossos sonhos mais lindos realizados.

Não faz muito tempo que me tornei uma das coisas que eu mais temi nos últimos anos: uma jovem adulta que está mais próxima dos 30 anos que dos 20. Dramas a parte, os meus 27 estão batendo na porta e esse é um dos maiores fantasmas que têm me assombrado nos últimos aniversários. É assustador ver os vinte e poucos se afastando e pensar que estou cada dia mais perto da tal ”idade do sucesso” bem diferente do que a minha versão mais jovem sonhava – e com mais perguntas que respostas fazendo morada em mim.

Ao me dar conta disso, tive que desconstruir cada uma das fabulosas ideias que eu passei a adolescência inteira construindo na minha cabeça, na perfeita harmonia que faziam no meu fantástico mundo das ideias. É curioso pensar sobre o meu medo de crescer e perceber, ao mesmo tempo, que foi justamente a passagem dos anos que me deu a liberdade que eu tanto desejei: reconhecer a minha própria receita de vida e entender que esse script pronto e milimetricamente perfeito sobre chegar aos 30, na verdade, não me interessa. O tão temido tempo foi (e segue sendo) um ingrediente essencial para eu perceber qual é, para mim, a vida que vale a pena ser vivida dia após dia.

Conforme ele passava, eu fui entendendo exatamente o que me distanciava das personagens dos filmes da Disney e de Hollywood e de suas vidas tecnicamente perfeitas. Descobri também – com ajuda de muita análise, é claro – que a receita para ter alguma espécie de sucesso aos 30 anos é muito pessoal, muda com o passar do tempo e pode ser muito mais simples que parece. Pra variar, é mais uma daquelas coisas que a gente complica por acreditar que existe alguma receita mágica por aí que deve ser seguida. E que, quando a gente encontra uma, acha que qualquer mínimo detalhe que fuja daquilo parece errado demais para fazer algum sentido.

É claro que a minha vida ao me aproximar dos 30 anos não estaria nem perto do que estou acostumada a ver em filmes desse tipo até hoje – porque, sim, eu sigo assistindo toda e qualquer comédia romântica com roteiros duvidosos sempre que posso. A verdade é que muitas das coisas que são bem comuns nesses enredos eu sequer quero para mim mesma e é libertador quando você se dá conta de que nem tudo sobre as vidas estampadas em capas de revistas, nas redes sociais, nos filmes ou séries têm a ver com o que é sucesso para você.

Mas a liberdade de ser quem se é tem um preço e é por isso que, nos últimos tempos, me percebi (imersa nesse oceano de reflexões) vivendo uma espécie de luto da pessoa que eu jurava que seria com 20 e muitos para dar espaço para aquela que eu realmente sou. É como se eu estivesse me despedindo de uma pessoa irreal para finalmente abraçar a pessoa que eu sou. Que eu dou conta de ser através de tudo o que faz de mim a Júlia. Afinal, entre o que eu sonho para mim e o que a minha realidade me permite existe um abismo chamado vida do qual ninguém consegue sair ileso.

Fato é que, ao entender que viver é melhor que sonhar, a gente aprende a adaptar os nossos sonhos e a dançar conforme a música que a vida coloca pra gente dançar. Nem sempre acertamos os passos de primeira, mas é certo que se entregar a eles rende novos e belos movimentos que você sequer sabia que existiam. Dos preços que eu estou disposta a pagar pelo simples (e abençoado) fato de estar viva, o de bancar quem eu sou é um dos quais eu mais me dedico, ainda que ele seja bem alto.

Ao invés de olhar para o espelho e achar que devo me odiar em algum nível por não ser exatamente aquilo que eu passei anos da minha adolescência imaginando, prefiro aprender a amar a Júlia que eu construí até aqui, pois eu sei o quanto ela é valiosa e, mais ainda, tudo o que chegar até ela me custou.

Não quero sobreviver a quem eu sou. Quero, na verdade, aproveitar cada segundo de mim. Dos meus 20 e muitos e, daqui pra frente, os anos todos.

A idade do sucesso, afinal, é aquela que você finalmente descobre a receita do seu.

Júlia Groppo

Por julia às 19.04.23 Comentários
É proibido ser triste em dezembro?

Nunca fui boa em me despedir. Seja de amizades, ciclos da vida, lugares que visito e sinto que deveria ficar para sempre (acontece com frequência). Mas em dezembro tudo isso é elevado à máxima potência . O tempo passa e me pego vivendo o mesmo drama: a dificuldade em dar tchau para o ano que está indo embora. Uma espécie de melancolia me abraça forte, daquelas que parece que não vai te largar tão cedo; e assim seguimos juntas até a noite do dia 31.

Foram inúmeras as tentativas frustradas de fingir que nada disso borbulhava dentro de mim ao me convidar a entrar em um clima 100% de festa e alegria. Afinal, parece que há um consenso universal entre todas as pessoas de que em dezembro é proibido ser triste. Além disso, dezembro é um dos meus meses preferidos, e eu me culpava por não me sentir totalmente bem ao longo dele. É claro que nunca funcionou, pois se tem algo que (graças a Deus) sou péssima é em mentir para mim mesma. Essa tal melancolia acabava transbordando de um jeito ou de outro, seja pelos poros ou pelos olhos. Nos últimos anos, finalmente aprendi a abraçá-la de volta e deixá-la cumprir o seu papel.

Desde que entendi que a melhor maneira de encerrar ciclos é respeitando o tempo que levamos para processá-los, ignorando qualquer calendário ou convenção social, aproveito minha hipersensibilidade para viver as minhas viradas de ano da maneira mais espontânea possível. Também aprendi que dezembro é sobre celebrar, mesmo que a tristeza se faça presente de alguma forma nos últimos dias do ano. Acredito demais no poder das celebração, que é sempre atrelada à festas, mas que devíamos colocar em prática quantas vezes pudermos ao longo da vida.

Celebrar cada passo dado ao longo de 2022, inclusive os tropeços. Celebrar os sonhos realizados, mas também aqueles que nunca havíamos sonhado e aconteceram como um grande presente do universo. Celebrar os bons encontros e as pessoas que ficaram pelo caminho, cumprindo seu papel em nossa história. Celebrar os últimos 365 vividos e vibrar pelos próximos que estão por vir. Afinal, por mais realizador que um ano possa ser, chega um momento em que o nosso coração clama por páginas em branco para serem preenchidas. E é por acreditar no poder dos ciclos, das celebrações e dos rituais que quero deixar registrado aqui um pouco do tanto que foi o meu 2022.

Fiz uma road trip pela Itália. Fui a shows com os quais sonhei a vida toda. Tive conversas difíceis, mas decisivas. Reencontrei pessoas que a pandemia havia afastado. Vi o Papa Francisco de uma distância que jamais imaginei que seria possível. Fiz muita terapia. Comemorei meus 26 anos no Rio de Janeiro. O voluntariado fez ainda mais parte da minha vida. Descobri novos sonhos. Escrevi poesias. Realizei a maior parte das minhas metas. Não traí a minha essência. Escrevi todos os dias. Fiz mais uma campanha de arrecadações de Natal acontecer. Fui a muitos novos cafés. Desejei não ser mais ninguém além de mim diversas vezes. Voltei a jogar tênis. Fiz novas amizades. Assisti muito Friends. Me encontrei com o mar. Usei menos as redes sociais. Fui voluntária de um TEDx. Vi o pôr do sol mais lindo da minha vida. Chorei e ri muito, demais mesmo, o que, para mim, é motivo de orgulho, pois quer dizer que senti a vida pulsar do lado de dentro e de fora – e essa é um compromisso que firmo comigo todos os dias.

E o mais importante de tudo, um aprendizado do qual me dei conta dia desses, entre as obrigações da rotina: por mais perdida que eu possa me sentir às vezes, por mais tropeços que eu esteja dando nos meus próprios pés, é incrível a minha capacidade de voltar para mim mesma. Meu coração sabe o caminho de volta. E termino 2022 aliviada por isso.

Obrigada por estar aqui. Nos vemos em 2023.

E que seja doce, sempre.

Júlia Groppo

Por julia às 09.01.23 Comentários
Um eterno rasgar-se e remendar-se

Já dizia Guimarães Rosa: “Viver é um rasgar-se e remendar-se”. Ele só se esqueceu de nos avisar que, às vezes, esse processo rola várias e várias vezes em um só dia, rs.

Resiliência é uma palavrinha que, assim como a tal da gratidão, fez morada na boca do povo e pode até ter tido o seu significado distorcido; mas não deixa de ter tamanha importância na jornada da vida e nesse processo de rasgos e remendos. Ser resiliente é ter a capacidade de se adaptar em situações difíceis, que causam estresse e desafiam até aqueles cuja saúde mental está sempre em dia (se é que isso ainda é possível na sociedade atual que vivemos).

A vida acontece o tempo todo e é certo que o relógio não pára para nos dar fôlego. É por isso que essa é uma habilidade muito importante de ser desenvolvida. Ainda que você esteja cansado, triste ou desmotivado, será preciso continuar. Nem sempre vai dar para tirar férias, fazer pausas entre uma responsabilidade e outra ou contar com os feriados de um ano. Este, por exemplo, tem tão poucos…

Sou uma defensora árdua dos tais respiros que a gente pode (e deve) se dar entre as demandas da vida; estou sempre em busca de novos. Mas quando a gente vira “gente grande”, leva logo um tapa na cara de que ninguém vai esperar seus problemas se resolverem. Muitas vezes, as pessoas sequer vão querer saber como você está.

Rasgar-se e remendar-se são dois grande fatos (e, de certa forma, fardos) sobre estar vivo. Vamos ser rasgados (pelo trabalho, pelos plano que dão errado, pelas relações tóxicas nas quais caímos, por nós mesmos) muitas e muitas vezes. Cabe a nós descobrirmos, a cada dia que passa, a melhor maneira de nos remendar. Seja através de crenças, de hobbies ou qualquer que seja a ferramenta que nos ajuda a recomeçar mais fortes, conscientes e sabidos.

Júlia Groppo

Por julia às 15.08.22 Comentários
Feito colo de mãe

Um dos meus textos preferidos da escritora Martha Medeiros chama-se “O mundo não é maternal”. Recomendo fortemente a leitura, mas para contextualizar rapidamente, ela fala sobre como o mundo lá fora não é nem um pouco maternal conosco como nossas mães costumam ser. Quando mais nova, lia esse texto e pensava “mas será mesmo?”. Hoje, a cada dia que passa, ele se mostra um pouco mais verdadeiro; daquelas verdades que a nossa criança interior custa a aceitar, mas não há outro caminho que não este. 

Esse mundo, na maior parte das vezes, não tem a menor paciência para os nossos dramas, não oferece carinho em dias difíceis, nem mesmo um colo para dar aquela choradinha necessária que revigora. Esse mundo não nos conhece como a palma da mão (e, pasme, não está nem um pouco afim de conhecer). 

É por isso que, além de eu graças a Deus poder contar com o colo da minha mãe, que segue sendo um lugar de segurança, eu passei a criar uma pequena lista de coisas que me abraçam, aquecem e acolhem feito ele. Como em tudo na vida, eu acredito que cada um tem a sua própria receita. E que benção é a gente poder sempre recorrer a esses ingredientes especiais que tornam os dias cinzas um pouco coloridos que seja. 

O mundo não é maternal – e disso não tenho mais dúvida alguma. Também não tenho dúvidas de que nada se compara ao colo de mãe, que, quem tem a sorte de tê-lo desde sempre, sabe bem do que eu estou falando. Mas o que eu tenho mais certeza ainda é que, sim, nós podemos (e devemos) criar os nossos pequenos aconchegos, que, como um bom colo de mãe, nos dão aquele quentinho no coração necessário para seguirmos em frente a cada tropeço. 

Quais são os seus?

Júlia Groppo

Por julia às 01.06.22 Comentários

Que horas são dentro de ti?
O ano é novo, mas você é o mesmo
Por que tudo dá certo nos filmes?
Mente também é lar